CONTO #001 - QUANDO VOCÊ ESTAVA AQUI


          O amor está sempre em evolução, começa na dor, esvai-se em um curto sorriso, e na dor, novamente se encerra. Pelo menos foi assim comigo. Eu tenho uma teoria de que ninguém é sempre feliz, embora o sorriso demonstre a felicidade, ele também pode ter milhões de outros significados. Assim como, existe choro de tristeza e choro de felicidade, também existem sorrisos de ambos. Eu estou em um lugar em que poucos gostariam de estar, onde poucos gostam de ir. Aqui é frio, fúnebre e nefasto. Alguns dizem que eu sou louco e que não deveria ficar aqui, mas eu não me importo, estou apenas amando quem um dia muito me amou. Pode parecer fácil, amar é normal, qualquer pessoa ama, mas ninguém ama como eu. Não do mesmo jeito. Amo as memórias, porque foi só o que me restou. Arrependo-me de cada briga e de tudo o que não fiz em sua presença. Agora é tarde, seu sorriso, abstruso se tornou. Quando você vai voltar? Estou esperando. Eu sei que não te amei como devia, eu queria ter te amado mais, com mais força e dedicação, eu queria poder ter dado a você, milhões de motivos para sorrir. Se eu pudesse te encontrar agora, muito feliz eu ficaria. A cada dia que se passa, se eu não te amasse verdadeiramente, sorriria mais e mais. Só que ninguém te ama tanto, e acho que ninguém, nessa imensidão, um dia amou alguém como eu te amo. Ninguém amou dessa maneira. Faço-te o favor de polir tua lápide com as lágrimas de meu pranto, se tu vieste, eu não mais poliria e de novo sorriria por novamente poder amar.
          Iludido. Sonhador. Louco apaixonado. Perguntam-me quando isso vai acabar, quando o meu choro há de cessar e quando para casa irei voltar, esquecer-me de tudo, novamente sorrir e de novo me apaixonar. Eu hei de sofrer até o dia que tu voltaste, hei de chorar, hei de continuar aqui, repondo as minhas lágrimas sempre salgadas, e na escuridão de uma noite sombria, na tormenta sem quietude, há de se propuser a de novo me amar. Responda-me, mulher dos olhos azuis, venha ante ao meu pranto e abrace-me, mesmo que eu não te sinta, saberei que ao meu lado tu vai estar. Ainda me ama? Lembra-se de mim? Faz muito tempo. Costumo encostar-me na tua lápide, o cimento frio e úmido sobre a grama bem verde e cheia de vida, parece querer fundir-se com a minha pele. No horizonte azul que sempre teimo em abstrair, encontro lembranças vazias de quando você estava aqui. Pessoas vêm e vão, olhando, chorando e conversando com as milhares de lápides significativas que aqui estão. Às vezes eu gostaria de tornar-me uma dessas lápides, ficar debaixo de uma delas para sentir como você se sente. Meu corpo dói. A coluna e o coração. Meus ossos estalam toda vez que eu me movimento, talvez seja pela má postura, por ficar sempre aqui, escorado. Os cabelos grisalhos anunciam que a minha hora vai chegar e que a ti vou me juntar. Depois de trinta anos sem tocar-te, poderei sentir de maneira etérea, os nossos corpos se entrelaçando para que nossas almas sejam o que não fomos.
          Meus olhos se fecham. Posso ouvir o meu coração pulsando lentamente, e o meu sangue esfriando, a fim de fluir da minha pele. Quando você se foi, doeu assim?Espero que haja alguém para chorar por mim como houve alguém para chorar por você. Em trinta anos sempre chorei, em sessenta te amei e mesmo quando eu me for, garanto que não te esquecerei. Sempre hei de lembrar-me dos poucos e curtos sorrisos que em sua límpida face eu vi. Mesmo se eu fosse pisoteado por uma manada, esquartejado ou decapitado por um pêndulo, jamais haveria dor maior do que a do vazio, que por três décadas, ocupou o meu coração. E de repente, agora, tudo se embranquece. Está vindo alguém de muito longe, cuja face eu não consigo ver. Aproximou-se mais de mim. Depois de trinta anos, sinto-me como se jamais houvéssemos nos separado, porque longe de você, nunca fiquei. Sorriu para mim, e aquele rosto, identifiquei. É você. Te encontrei.


– Igor Cesar S. de Castro

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